Psicóloga Lídia Weber fala sobre adoção e o desafio de erradicar o modelo de acolhimento em abrigos

ADOTARRR 3A psicóloga e escritora Lídia Weber, convidada para palestrar no II Seminário Estadual de Adoção, realizado pelo Tribunal de Justiça do Amapá, afirma que o Brasil tem um “histórico complicado de adoção porque demorou a falar no assunto com mais propriedade”. Para ela, o país tem um certo atraso em relação a países mais desenvolvidos, mas “é muito interessante quando um evento como esse chama atenção para que aconteçam as adoções necessárias, que são as mais difíceis como de crianças maiores, crianças com problemas de saúde ou especiais”.

 

ADOTARRR 5O grande desafio, segundo a psicóloga, é extinguir os abrigos, porque eles não são ambientes que favorecem o bom desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. “Em países mais desenvolvidos não existem mais abrigos, ou, quando raramente, para crianças muito especiais ou com problemas de saúde muito sérios. No Brasil temos quase 50 mil crianças abrigadas”. Esses países adotaram o sistema foster care, que significa acolhimento familiar. Nele as crianças moram em famílias provisórias, subsidiadas pelo estado, enquanto aguardam adoção definitiva.

A legislação brasileira prevê esse sistema de abrigamento em famílias, e já existem cidades que estão adotando. Lídia Weber relata a experiência da cidade de Cascavel, no estado do Paraná, onde uma parceria do Judiciário com a prefeitura conseguiu erradicar os abrigos. “O município tem cerca de 200 crianças em acolhimento familiar”.

Há um modelo intermediário de acolhimento, denominado Casa Lar, onde uma mãe social ou um casal social cuida de até 10 crianças. No Amapá esse modelo está presente no município de Santana, por meio da instituição Marcelo Cândia, voltada para adolescentes do sexo feminino. “Por melhor que seja a instituição, a história já provou que o abrigo não é a melhor opção para o desenvolvimento da criança. Somos seres de amor e de afeto, e se não temos isso, teremos imensa dificuldade de nos desenvolver”, explica a psicóloga.

Segundo ela, pesquisas revelam que não só fatores socioeconômicos estão na raiz do abandono de crianças e adolescentes no Brasil. Além desse fator, a reprodução de práticas familiares também explica o abandono de filhos. “Mães que nunca foram filhas, que sempre foram sujeitas a abandono, a negligência, a maus tratos. Elas nunca foram filhas, como podem ser mães? Então, o abandono no Brasil vai além da pobreza”, demonstra a pesquisadora.

Sobre as consequências para o equilíbrio emocional e o desenvolvimento das crianças que vivem em abrigos, Lídia Weber explica que “o ser humano se define pela vinculação afetiva, se a pessoa não tem alguém que tenha aquele amor incondicional por ela, que a auxilie a desenvolver a própria identidade e o senso moral, essa pessoa não será um ser humano completo”. Além do fator afetivo, morar em um lugar impessoal, onde a criança não tem seu espaço, onde as regras são gerais também contribui para a dificuldade de desenvolvimento.

“Essas pessoas vão apresentar problemas com autoestima, comportamentos interiorizados, depressão, ansiedade, falta de confiança no outro, além de outras questões como prejuízo acadêmico e de aprendizado”, enumera a psicóloga.

Lídia Weber também apresentou alguns mitos que envolvem a adoção. Um deles é a ideia corrente de que as crianças adotadas dão mais trabalho e se tornam rebeldes porque já trazem maus hábitos de sua origem. “Há pesquisas que comparam filhos adotivos e filhos biológicos e revelam que os adotivos são mais satisfeitos com suas famílias. Isso se explica porque essa necessidade de ser amado faz com as crianças e adolescentes adotadas estejam disponíveis para se vincularem afetivamente aos pais que realmente querem amá-los”, exemplifica.

“Um dado mundial demonstra que o maior número de maus tratos e negligência está nas famílias biológicas. Isso porque a adoção vem daquele desejo real de ter um filho, por impossibilidade de engravidar ou por vontade de dar amor a uma criança abandonada”, relata Lídia Weber. Segundo ela, “o amor é conquistado e depende da relação que se estabelece no dia-a-dia, na cumplicidade e, na verdade, todos os pais têm que adotar os seus filhos, sejam eles biológicos ou não, adotar no coração”, finaliza.

-Macapá, 29 de junho de 2017-
Assessoria de Comunicação Social
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